Ao encaminhar o projeto QUE AMORES SÃO ESSES para o edital de ocupação do Teatro de Arena Eugênio Kusnet, nos propusemos a investigar a influência da censura moral na cena paulista nas décadas de 50 e 60, a partir de cinco dos processos de espetáculos contidos no Arquivo Miroel Silveira – pertencente à Biblioteca da ECA - USP: “Perdoa-me por me traíres” de Nelson Rodrigues encenada pela Companhia de Comédia Jayme Costa; “O Feitiço” de Oduvaldo Viana Filho encenada pela Cia de Nydia Licia; “A Serpente” de Gianfrancesco Guarnieri encenada pelo TBC; “O Testamento do Cangaceiro” de Francisco de Assis encenada pelo Teatro de Arena e “O Rei da Vela” de Oswald de Andrade encenada pelo Teatro Oficina.
Ao escolhermos trabalhar com este tema, sabíamos que seria um trabalho de extrema responsabilidade, e somado ao fato de sermos selecionados entre os projetos encaminhados (certamente também merecedores), tal responsabilidade ganha maior proporção.
Somos cientes da importância histórica deste espaço que ocupamos, principalmente à nossa pesquisa, e poder desenvolvê-la no ARENA é muito significativo. A cada dia ocupando este teatro, reafirmamos a importância do apoio que a FUNARTE nos proporciona, e aproveitamos este relato para agradecer a toda a equipe que nos recebeu de forma tão acolhedora.
Vale ressaltar que nossa convivência com a Cia Rodamoinho, com quem dividimos esta ocupação, tem sido enriquecedora. Procuramos desde o primeiro contato manter respeito mútuo e espírito colaborativo, fazendo com que nossos trabalhos caminhassem juntos e em harmonia. Fomos presenteados pelo extremo profissionalismo e carinho da Cia Rodamoinho para conosco.
Nesta primeira fase da ocupação do Teatro de Arena Eugênio Kusnet, pudemos mergulhar em nossa pesquisa a respeito da censura ao teatro paulista por meio da programação que realizamos com apoio da FUNARTE.
Chico de Assis é história viva. Poder saber do próprio autor suas experiências com a censura, sobre o espetáculo O TESTAMENTO DO CANGACEIRO e seus processos de criação dramatúrgica foi verdadeiramente enriquecedor. Como nossa pesquisa gira em torno da censura moral influenciando a cena paulista, ouvir de Chico que seu maior problema nessa época era a igreja, afirma nossas hipóteses. Também Neyde Veneziano e Alberto Guzik, durante os debates QUE AMORES SÃO ESSES, falam dessas questões morais na sociedade paulista e os processo de censura de PERDOA-ME POR ME TRAÍRES e de A SEMENTE reiteram essa afirmação com documentos de escolas católicas e instituições paroquiais solicitando cortes e vetos.
Cabe aqui falar que convidamos o espetáculo “DIAS DE CAMPO BELO”, dramaturgia de William Costa Lima inspirada nas relações masculinas do espetáculo Rasga Coração, por ser também congruente à nossa pesquisa e ao que o edital de ocupação deste teatro propõe. Tivemos, num dia de apresentação desta peça, a oportunidade de conhecer um colega de infância de Vianinha, que nos relatou histórias interessantíssimas.
Tais experiências só são possíveis graças à iniciativa de apoio cultural governamental e também ao histórico local, de tantas realizações e conquistas que se mantém até hoje influenciando nossa geração.
Claro que falar de um tema como a censura e estar num local tão importante gera polêmica... enfrentamos alguns "obstáculos" pelo caminho. Mas os obstáculos foram feitos para serem ultrapassados e é o que estamos fazendo!
Seguimos com nossa pesquisa!
domingo, 3 de janeiro de 2010
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