sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

14/01 - DEBATE SOBRE ARTE E TECNOLOGIA

LÚCIO AGRA E VJ PALM DESMISTIFICAM A “TECNO ARTE”
por Leandro Caldarelli (ator)

Jogos de luzes, microchips, “trackers”, arduínos, sensores ópticos e projeções de vídeo aliadas à antiga arte da interpretação são temas de debate do projeto “Que Amores São Esses?” que ocorreu no dia 14 de janeiro no Teatro de Arena Eugênio Kusnet. Começamos com nosso parceiro Lúcio Agra nos dando um panorama histórico geral de como ocorreu a fusão “teatro + tecnologia” dando origem aos primeiros espetáculos com mecanismos analógicos de movimentação de cenários e efeitos especiais, por volta das décadas de 20 – 30. Algumas dessas engenhocas desenvolvidas por Erwin Piscator (1893 – 1966) que, em suas experimentações com o teatro épico, dava vida a bonecos, movimentavam plataformas e utilizavam projeções de vídeo. Agra nos fez viajar pela trajetória da tecnologia no teatro, passando pelo período pós-guerra em que nasceu a primeira noção de performance como algo que não era dança, não era teatro e não era artes plásticas e sim um misto de tudo isso levando a cena às últimas conseqüências para envolver o público, sempre utilizando os recursos tecnológicos em favor da mesma. Discorreu então sobre o Living Theater americano, com o “happening” trazendo um novo conceito de teatro em que o público já não era mais espectador da obra e sim parte dela. Adentramos na era contemporânea em que a tecnologia digital invadiu os palcos por definitivo acrescentando cada vez mais elementos ao teatro e deixando o mesmo com mais cara de performance. Depois foi a vez de Ricardo Palmieri nos imergir no universo do teatro tecnológico pós moderno nos apresentando alguns grandes nomes da cena mundial.



No vídeo acima, podemos ver a performance “Messa di Voce” do artista americano Golan Levin em 2003, que começou como engenheiro e descobriu a arte na tecnologia. A maioria de suas obras são performances ou instalações nas quais ele se utiliza de projeções, sensores de som, câmeras que captam a movimentação e muita criatividade para fazer com que o seu público experimente as sensações de sua arte por completo.


Body Navigation (8 min. trailer) from ole kristensen on Vimeo.



Aqui assistimos a instalação “Body Navigation” do artista dinamarquês Ole Kristensen, que se utiliza da mais moderna tecnologia de sensores de movimentação corporal e projeções para criar ambientações com as quais os atores e dançarinos possam interagir criando desenhos, imagens, jogos e brincadeiras que enchem os sentidos do público. Em seguida, fomos elevados ao nível das grandes performances ao ar livre com esse vídeo

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do grupo espanhol La Fura dels Baus em sua magnífica “Naumachia”. O La Fura Dels Baus, se utiliza de engenhocas gigantes e apresentações chocantes que misturam muito das artes circenses com a tecnologia de luzes e projeções para imergir o público em um estado de adrenalina e êxtase. Passamos também pelo grupo Royal De Luxe que se utiliza de bonecos gigantes como o La Fura, mas no meio das ruas,



passando de cidade a cidade, envolvendo públicos distintos e habitats diversos para contar suas histórias. Por fim, Palmieri nos apresentou seu trabalho e a tecnologia utilizada por ele para criar e executar sua arte nos mais diferentes tipos de espaços e linguagens - sempre agregando o público como parte da criação e não apenas como espectador, deixando espaço para que o mesmo deixe sua marca nas obras.



Nessa instalação Palmieri desenvolveu um sistema de câmeras que captam o movimento do indivíduo que se encontra na sala e dispara vídeos de celulares sendo destruídos.



Aqui, o robô, programado para ficar “perdido” no ambiente, conforme passeia sobre o mapa, dispara vídeos com cenas das ruas da cidade.



Nessa cozinha, o “lance” era fazer uma sopa de olhos. A projeção dos olhos feita sobre a água fervente era contínua. O público poderia entrar na cozinha e fazer qualquer receita sobre sopa de olhos.



Esse último vídeo é a introdução de seu mais recente trabalho audiovisual nos palcos em parceria com a Cia. Les Commediens Tropicales, o espetáculo “O Pato Selvagem” de Henrik Ibsen do qual fez parte da criação cenográfica. É uma vídeo-colagem feita por Carlos Canhameiro. Entre outras tecnologias que Palm nos apresentou, duas são as mais peculiares: a primeira é a utilização do Wiimote e do Nunchuk (joysticks do vídeo-game Nintendo Wii) como instrumentos musicais virtuais para criação musical. Ele os conecta via Bluetooth a um PC, utilizando um software específico, e através dos movimentos de suas mãos que são detectados e codificados pelo computador, consegue imitar sons como se tocasse os próprios instrumentos. A outra é a utilização de arduínos, pequenas placas de recepção e armazenamento de informação que conseguem transformar informações captadas por microchips, espalhados pelo meio ambiente e ligados a algum veículo de mídia específico, como uma webcam, em informação digital, a distâncias grandes. Com isso, conseguimos, por exemplo, captar imagens de um espetáculo apresentado em um teatro e exibi-las em outro teatro próximo ao vivo sem a utilização de nenhum tipo de cabeamento. Em suma, o debate que era pra ser sobre a utilização do audiovisual no teatro, acabou em uma grande aula sobre a tecnologia de ponta disponível a preços acessíveis no mercado e as milhares de aplicações das mesmas na arte, seja ela teatral ou não. Tocou também no fato de como é de fácil, mesmo sem grandes conhecimentos específicos, através da utilização da internet como meio de pesquisa, tornar-se apto a desenvolver infinitos tipos de engenhocas que dialoguem com o ambiente artístico; algo que na década de 20, quando começou a despontar, era sofrido e levava muito tempo para ser testado e realizado. Arte e tecnologia... E aí? Vai encarar?

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